Achei esse texto guardado datado de dois anos atrás. Tá, dois anos e um pouquinho.
Não lembro exatamente o que aconteceu, mas a revolta foi tamanha, que chegou até a desnortear.
Não acho um bom texto (não corrigi e nem mudei nada), mas vale a pena postar, nem que por alguns minutos, porque muitas coisas ali ainda condizem com meu pensamento.
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E você, faz o que?
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Impossível escapar dessa pergunta, de rodas de amigos à entrevistas de emprego. O mundo do umpoucodissoumpoucodaquilo tomou forma, corpo e, além de tudo, age.
Talvez seja o meio
Como sempre, culpo a globalização e esse-mundo-maluco-de-meu-Deus que joga informações tão rápido que nós, filhotes dele, temos que sair correndo pela tangente para conseguir absorver tudo que ele exige.
Lógico que não coloco o “culpar” de forma pejorativa, muito pelo contrário, sou da idéia de quanto mais informação temos e mais coisas sabemos fazer, mais completos estamos. Assim como também acredito que essa inteligência virtual imediata do tipo Google/Wikipedia sabendo ser administrada, é uma boa arma para quem busca o conhecimento nosso de cada dia (Amém!).
Vá lá que meu círculo de amizades não é dos mais coerentes para se fazer uma análise, já que a maioria dos profissionais formados são, na verdade, minoria e, deles, menor ainda é a parte que trabalha em algo relativo à sua formação. Dos outros tantos, sobram músicos, escritores, artistas plásticos, atores, estilistas e mais uma leva de excelentes profissionais que, por um motivo ou outro, acabaram saindo do caminho do curso superior para seguir outro, qualquer outro, que nem caminho precisa ser, mais especificamente.
Nunca se deve generalizar, mas a maior parte das pessoas que conheço sem formação, tem uma gama de conhecimento bem maior que aqueles que a tem. Paradoxal e clichê, eu sei, mas verdade.
Aí você me diz; “óbvio!”.
Sim, óbvio.
Eu, por exemplo, durante minhas faculdades, tive que estudar constantemente o que havia me proposto e me dedicar pura e exclusivamente àquilo e, cá entre nós, como ambas eram cursos de comunicação, o contato com o mundo e com outras áreas era necessário e, mesmo assim, várias vezes me vi bitolada nos autores exigidos para minha plena formação.
Agora, imagine você, um médico. Só de ossos o ser humano tem 206.
Lógico que, assim como não podemos generalizar, toda regra tem suas exceções. Quando falo dessa gama de amigos, também tenho que explanar o ponto do interesse comum. Não é todo mundo que se interessa por filosofia, assim como não é todo mundo que se interessa por teorias conspiratórias, por exemplo, e muitas vezes o que pode ser uma panacéia para você, pra mim pode não passar de um placebo mal feito.
Okie, estou me perdendo um pouco do foco que deveria ter isso aqui.
Serei mais concisa e usarei algo que conheço muito bem
Alguém já parou para analisar friamente a faculdade de jornalismo?
(permita, antes de jogar as pedras, que eu esclareça que, assim como tentei cursar, tenho muitos amigos formados e não formados, todos muito bons jornalistas)
A base da minha critica, não só à formação jornalística mas como à profissão jornalista é simples e clara.
Vamos supor que você, durante toda sua faculdade, desenvolveu um trabalho com esportes. Os motivos podem ser vários. Os estágios que você encontrava só eram nessa área, ou você sempre foi colorado doente mas o sedentarismo tem impedia de chegar até a esquina, ou mesmo, na divisão de pautas em sala de aula, um professor lhe jogou uma coluna no caderno de esportes na época das Olimpíadas e os quatro anos seguintes só te chamavam para cobrir coisas do gênero. Okie. Você se forma e começa a enviar currículos para todos os lados (às vezes até especificando a área) e é chamado por uma empresa (de qualquer campo midiático) para trabalhar. Você vai, com seu livro do Galvão Bueno a postos e BANG! sua coluna é sobre política.
Tá. Posso não ter chegado no ponto exato. Tento de novo usando os mesmos exemplos.
Que jornalista, que não um apaixonado por política, tem embasamento o suficiente para argumentar sobre o assunto? Não deveria ser um cientista político, ou até mesmo um historiador, o emissor mais cabível para esse tipo de pauta? Assim como na questão do caderno de esportes daquele seu jornal preferido. Não é preferível ler algo escrito por um atleta ou alguém formado em educação física?
Hmm, você concorda, não é mesmo?
Agora me responda, que lei ampara esse profissional amplamente qualificado e capacitado para desenvolver esse trabalho? Que lei permite que esse profissional “assine suas matérias”?
Te dou tempo para pensar. Quer uma dica? Decreto nº 972/69!
Isso mesmo!
Decreto nº 972/69, artigo 4º, parágrafo III: “o exercício da profissão de jornalista requer prévio registro no órgão regional do Ministério do Trabalho, que se fará mediante a apresentação de: [...] diploma de curso de nível superior de Jornalismo ou de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, fornecido por estabelecimento de ensino reconhecido na forma da lei”
Yeah! That's what I'm talking about! Estar formado nem sempre é estar preparado.
Lógico que citei um exemplo bem próximo (e que, ao ler, me faz acreditar que dei um tiro em meu próprio pé), mas antes que eu me perca de novo em meus devaneios, resgato ao princípio o objetivo dessas mal-traçadas.
O que você faz? O que você é?
“... mas pera-lá, você não acha que as pessoas deveriam fazer um curso de graduação?”
Pera-lá você! Acredito que todo estudo é valido, e o superior está incluso nesse meu ideal. A única coisa que me deixa com a tal da pulga atrás da orelha, é essa cisma constante e impertinente de você ter que ser algo pelo simples ato de ser algo e/ou alguém com algo em forma de canudo na mão e uma foto com toga na estante da sala de estar. Essa obrigação de “ser quando crescer”.
- E você, é o que?Deu pra pegar o espírito da coisa?
- Eu sou Fernanda, e você?
- Não, o que você faz?
- Prazer “Não”. Trabalho com produção e escrevo uns textos aqui e outros acolá de vez em quando.
- É mesmo? Você é jornalista?
- Não perante a Lei.
- Fez comunicação?
- Fiz, mas tranquei as duas faculdades.
- Então você não é formada?
- Não.
- Então você não é nada?
- Er... e você, faz o que?
- Sou formado em jornalismo.
- Que bom! Trabalha na área?
- Não. Na verdade trabalho em um escritório.
- Ah! E você gosta?
- É melhor que meu antigo trabalho como assessor de imprensa...
Então, da próxima vez que você encontrar um amiguinho na rua, três dicas pra você sair feliz e ele também:
1º não pergunte seu sobrenome.
2º não pergunte onde seus pais trabalham.
3º não pergunte o que ele é, e sim o que ele faz (e isso, em última instancia, se for realmente relevante).
..
Tosco, porém honesto.
Bateu um Piaget!
Construtivismo neles (e vinhetapramim! Rá!)!
Antes, só pra terminar: sou uma quase jornalista, quase produtora, quase assessora de imprensa, quase pianista, quase escritora, quase roteirista, quase estilista, quase bailarina, quase conhecedora de história, filosofia, psicologia, cinema, artes plásticas, literatura e música, que faz alguns desenhos de vez em quando, que agora vai tentar ser socióloga - inteira - e que está muito satisfeita por ter sido reconhecida pelo que faz, e não pelo que é (ao menos esse “é” nesse sentido de “ser”, empregado no texto).
Salve a pieguice!
Chega.
Agora é voltar para o programação de costume, serelepe, cheia de sublinhados, lotada de palavrões e metida a besta!
Ê-laiá!