quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Jorge Manrique



Na busca de partida, encontro Jorge Manrique.
“Dexo lãs inuocaciones de los famosos poetas y oradores;
non curo de sus fictiones,
que trahen yervas secretas sus sabores;
Aquél sólo m’encomiendo,
Aquél sólo invoco yo de verdad,
Que en este mundo viviendo,
el mundo non conoció su deydad.”
Até hoje não sei muito bem como esse livro veio parar em minhas mãos. Ele data de 84, um ano antes de minha vida. Ele e mais uma coletânea de poesias brasileiras sugiram alguma vez em que remexia em uma caixa de livros guardados. Sempre gostei de poesia, mas me fechei muito em uma gama específica de autores. Dos nacionais, três me tomaram o coração desde quando conheço as mal-traçadas como melhores amigas e aliadas; o soteropolitano Gregório de Matos, com sua poesia barroca e vida desregrada pós regresso de Portugal (“de dous ff se compõe esta cidade a meu ver; um furtar, outro foder”) ; Álvares de Azevedo, com seu romantismo desenfreado, satânico e boêmio, digno do título de “Byron brasileiro” (“sou o sonho de tua esperança, tua febre que nunca descansa, o delírio que te há de matar”) e meu preferido, o brilhante, misterioso, precoce conhecedor de literatura & filosofia e autor de um único livro, Augusto dos Anjos, que virou meu companheiro de cabeceira me conduzindo ao pré-moderno (“toma um fósforo. Ascende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, a mão que afaga é a mesma que apedreja”). Os gringos nunca firmaram muito meu gosto. Sempre que pensava em ler algo parecido gringo, corria para o Poe e ali ficava. De vez em quando caía no Byron, mas não por muito tempo. Gosto do drama na literatura, mas a idéia de amar e morrer de amor, e não porque a situação beira Sheakespeare, mas pura e exclusivamente por amar demás ao ponto da morte, sempre me nauseou um tanto.
Lembro de me interessar por Manrique por alguns pontos práticos. O primeiro, sem dúvida, foi o Quattrocento (início do Renscimento), o segundo foi o fato de ser espanhol (estava aprendendo o idioma e era uma boa pedida para um texto rápido e de fácil compreensão) e, o terceiro ponto foi sua vida militar, o que me levava facilmente a devorar sua poesia, na busca de algo referente a todas as batalhas de que participou (na verdade, a maior parte das que encontrei foram de amor, mas em um livro – o qual não lembro o nome e muito menos onde coloquei – estão poemas feitos por ele em combates).
Sobrinho de Gómez Marique, grande representante da literatura castelhana do século XV, Jorge foi, além de um cavaleiro atuante, um dos maiores nomes do Renascimento e sua obra mais representativa foi “Coplas por la muerte de su padre”, que se tornou um dos maiores clássicos da literatura espanhola.
Enfim, se você quiser, coloca aí no Google que facilita meu trabalho. O que importa mesmo é que fico feliz quando essas coisas acontecem, e hoje, abrindo uma dessas caixas lotadas de letras e páginas (novamente), reencontro Jorge Manrique enquanto buscava uma partida; e achei.
Sou mais da poesia cantada, mas que vale a pena, juro que vale.
“Nuestras vidas son los ríos
que van a dar en la mar,
qu´es el morir.
Allí van los señoríos
derechos a se acabar
e consumir.”
 

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